2.09.2013

Vida de cão

Toda a gente é dona de um cão, depois amiga do cão, depois apaixonada pelo cão. Ora o cão cresce e envelhece muito depressa. Vê-se o cão cada vez mais sorumbático e manhoso. Começa a sorrir menos, a comer mais, depois a perder a visão, o ouvido, quase o faro e o cio, já não consegue saltar para os sofás, dorme 22 horas por dia. Dura 15 anos e nós assistimos à sua vida, desde a pujança à apatia, e à sua morte. E é como se assistíssemos a um resumo da nossa vida e da nossa morte. Agora vou citar um poeta morto e esquecido, Raul de Carvalho, que ainda aparece nas ruas nocturnas do Arco Cego, em silhueta velha e aquilina, à procura de rapazes e de metáforas que raramente usava:
Tenho,
Perante Deus,
O direito
De ter
Um cão.

1 comentário:

Tolan disse...

é que é isso, o cão somos nós vistos de fora.

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