8.28.2010

O medo salva Sarkozy.

Na França, país com fortíssima componente de originários estrangeiros, a par dos Estados Unidos de outros tempos, os franceses, muitos deles consequentemente "estrangeiros",têm medo dos estrangeiros. Têm medo dos estrangeiros, têm uma mente e um coração securitários, vivem obcecados pela "segurança" e culpam os estrangeiros (muitas vezes eles próprios) pela falta dela. Sarkozy, um francês de origem húngara mais francês que os franceses de origem auvergnate, sabe aproveitar o medo do francês pelos estrangeiros (como lhe ensinou Le Pen) para fazer a sua arrumaçãozinha étnica à la française a fim de ganhar votos, de se livrar da falta de popularidade em que se vem afundando por causa, sobretudo, da sua política económica e social desastrosas. E consegue. E não é porque os franceses sejam mais estúpidos do que os outros (vejam-se os italianos apoiando um Berlusconi em queda pelos mesmos motivos), mas porque têm medo. O medo salva Sarkozy.
E permite-lhe encenar esta comédia kafko-harmsiana: umas centenas de ciganos são expulsos "legalmente" (note-se que há apenas 15 000 Roms em toda a França) com a argumento de que "são uma ameaça para a ordem pública". São todos Ciganos mas o ministro da Imigração tem a lata de dizer à ONU que "le droit français ne connaît les étrangers qu'à raison de leur nationalité", et qu'en conséquence "les Roms ne sont pas considérés en tant que tels mais comme des ressortissants du pays dont ils ont la nationalité".
Entretanto, parece que começa a instalar-se uma certa racionalidade legal: «Le tribunal administratif de Lille a annulé vendredi 27 août quatre arrêtés de reconduite à la frontière pris par la préfecture du Nord à l'égard de Roms qui avaient été évacués mardi d'un terrain situé à Villeneuve-d'Ascq». O tribunal considerou que ocupar um terreno comunal (público) não é suficiente para constituir ameaça à ordem pública.

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