Entretanto, em Espanha, tudo na mesma no pior dos mundos: Messi e Ronaldo continuam a marcar golos, para inveja do mundo, e as salas de apostas e de jogos continuam cheias. Em espanhol futebolês, e não só, ilusión é sinónimo de fé e esperança.
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No Câmara Clara da 2, debateu-se brilhante e apaixonadamente o que há de essencialmente ocidental e mitológico na literatura russa, com Francisco Vale, editor, António Pescada, tradutor e Paula Moura Pinheiro, a apresentadora e guardadora de mitos, que estava bem preparada. O que não evitou que repetisse várias vezes que a língua em que escreviam os escritores russos era o cirílico. António Pescada, tímido e nervoso, teve a elegância de não lhe explicar (e aos telespectadores) que cirílico é apenas uma convenção gráfica utilizada também no búlgaro, no bielorrusso, no ucraniano, no sérvio, no grego, etc. PMP não se coibiu também de levantar a alta questão superior-ocidental: por que razão no século XIX, um país tão atrasado, produziu uma literatura tão boa? E alvitrou: questão de aculturação? Influência da cultura europeia na aristocracia culta russa (sobretudo francesa)? Direi apenas que no século XIX, e mesmo antes e mesmo depois, a Rússia era bastante europeia e tanto se aculturou como aculturou os outros, e era até bastante ocidental: se procurarmos bem no mapa-múndi, ainda há muito sítio oriental para lá dela. Quanto ao atraso, estava na vanguarda também no teatro, no cinema (desenvolveram a técnica cinematográfica ainda antes dos irmãos Lumière), na medicina, na ciência e na tecnologia (limito-me a citar Lomonossov e Mandeleev, o das tabelas periódicas), etc., e, vá lá, aconselho a Wikipédia. Mas no geral, um programa positivo e animado, e ficamos muito contentes por não se falar muito no «general inverno» que derrotou Napoleão e os nazis, na «alma russa», nas «imensas vastidões geladas», na balalaika e no «voa, voa, minha troika voa»... e na suposição de que o génio de Dostoievski e de Tolstói (e não Tólstoi) lhes adveio de serem gays.
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E por cá, igualmente tudo bem, os leões provaram ontem que estão capazes de disputar honrosamente o domínio da selva, o Porto domesticou-se e nós todos estamos a transformar-nos em bonecos, como na Espanha, na Rússia e até no mundo, dependentes do preço das pilhas.
2 comentários:
Grande e oportuna lição de história que aqui dá à tal 'cirílica' nervosinha!
Tem graça o seu noticiário por isso, embora acabe mal -é que, ocorre frequentemente que quero dizer 'alegre' e julgam-me a designar a paneleiragem.
Ora, há que acabar com o neologismo, é icónico mas é impróprio; ponha em português e obrigado.
Vale. (pequeno contributo: Duracell)
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