8.26.2010

Ciganos

Um olhar simples sobre coisas nada complexas. Não tenhamos dúvidas: na vida do dia-a-dia, os ciganos existem: compramos-lhes coisas mais baratas, olhamo-los de lado (ou não), eles vendem-nos coisas mais baratas, olham-nos de lado (ou não). Na minha terreola suburbana, os ciganos vivem em andares, estacionam as carrinhas cá em baixo, mandam os filhos à escola, dão-lhes porrada se não estudam ou se se metem em galderices, acamaradam com toda a gente nos cafés, principalmente em dias de futebol. Há o João Cigano, o Chico Cigano, o Manel Cigano, apenas porque é mais fácil identificá-los do que decorar-lhes os apelidos - Ferreira, Garcia, Antunes... Mas, fruto dos tempos, na minha terreola suburbana não há muita convivialidade entre as pessoas (ciganas ou não). Para um gajo filósofo popular e benfiquista, um cigano do Benfica vale mais do que qualquer presidente da república do Futebol Clube do Porto. Em Portugal ainda é assim: «cigano» passa a «vizinho» mais depressa, nem se compara, do que o Freitas do Amaral a esquerdista.
Em Portugal é assim, mas na República Portuguesa (um estado de direito), não há ciganos, há portugueses (e estrangeiros), mas estrangeiros é que os ciganos portugueses não são. Menosprezemos até (ou abominemos) o epíteto de «indivíduo de etnia cigana» constante dos relatórios policiais e do Correio da Manhã. Nos bilhetes de identidade portugueses ainda não consta a indicação de origem étnica, ainda não chegámos à União Soviética de Stálin e Brejnev. No que respeita aos ciganos romenos e búlgaros que se vêem por aí, em Portugal, a trabalhar ou não, eu, no meu estadozinho de direito português querido, nem sabia que eram ciganos se o Correio da Manhã não tivesse começado a denunciá-los como a origem de todos os nossos males.
Isto a propósito da ignomínia da França sarkozyana (e não só, ver alerta de Pitta), que expulsa ciganos carrément (e não cidadãos de origem romena, búlgara ou FRANCESA, nem sequer «indivíduos de etnia cigana... etc», porque não poderia pela lei).

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