A alma, como
toda a gente sabe, não se vê nem se apalpa, assim temos de procurar a alma
russa na literatura clássica russa ou, melhor ainda, na análise a essa
literatura feita pelos peritos ocidentais em alma russa. A alma russa, só para
dar um exemplo comezinho, é como --- em maior --- a saudade tipicamente
portuguesa que também não se vê nem se
apalpa, a não ser no fado, agora património. Mas o fado, dadas as suas origens,
é canalha, e a alma russa, asfixiada mas nunca esganada até ao fim pelos
bolcheviques, é mais do que boa pessoa, é sublime. A alma russa, mesmo coberta
de farrapos, é rica (não tanto como Pútin e os magnatas oligarcas, mas esses,
ao que consta, não têm alma), é diversa, é morta (Gógol), luminosa e obscura, é
infinitamente nobre e infinitamente mesquinha, «uma alma gorda e gulosa,
descarada e divertida, ávida e sem cerimónias, brincalhona quando é lucrativo e
soturna quando não o é» (Petruchévskaia), assassina, cruel, exploradora, mas
também bondosa, tchekhoviana, generosa. É puta, é santa. O fado, mesmo
património, não lhe chega aos calcanhares, a alma russa ouve um fado e ri-se,
cospe-lhe na cara. É arrogante como o seu querido filho pródigo Volódia
Nabokov. Ou humilha-se como o último dos eremitas do Baikal. Há almas russas
que ainda trazem o diabo bexigoso e bigodudo no corpo. É uma alma de primeira e
bem merece estar lá, a letras de ouro, na literatura deles e na nossa. Que não
desanime porém a alma lusa (saludos CR7 y Mou), que não se desalme. Alma, todos
temos uma, até os fantoches merkelianos, tenhamos fé.
2 comentários:
... mas está enganada!
A alma russa vê pouco no fado até o olhar por dentro e então tenta cantá-lo mas não cospe, como diz.
A 'atormentada alma russa' ri e chora, muito, mas raramente cospe.
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