Há muito tempo que a Páscoa é apenas uma memória de cabrito, borrego, anho, folar, lenta explosão da Primavera; há muito tempo que católica é apenas um fio agarrado aos poderes para sobreviver, e só já está presente no nome de uma universidade, na conquista de um feriado que te queriam roubar, numa concordata e na repressão mental. Será católico ou malformado pela máquina católica secular aquele indivíduo (aquele pai extremoso) a quem os médicos e os dadores generosos salvaram o filho de uma doença rara e que depois teve os seus 5 minutos de fama na TVI e no Correio da Manhã para agradecer, não aos médicos e aos solidários dadores, mas à nossa senhora de Fátima?
A narrativa dos novos narradores portugueses (alguns com mais de 60 e 80 anos) é uma Páscoa pegada (é irreal, dizem) e procura preponderantemente 3 coisas: uma voz, uma identidade e um silêncio próprios. Voz não há própria, a língua é de todos, voz diversa só se imitares muito bem um galo ou um grilo; identidade já tens, até no BI, isso é coisa que não se inventa com palavras e silêncios; silêncio é calares-te, ó narrativa montadora de andaimes verbais. Não vês que não se pode inventar o que já há (reinventar é pra políticos), que o assim inventado sai borrado, que tens os andaimes a que chamas literatura mas não tens a casa?
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