Sempre me pareceu cruel o divertimento dos nobres (ricos) russos do século XIX, sobretudo quando chamavam para a animação os ciganos (ou os músicos judeus) - sempre me pareceu que era como quem chamava os cães. Talvez só eles se divertissem (os nobres e ricos), porque os ciganos, os cocheiros, os estalajadeiros, as raparigas, enfim... Dostoiévski descreve muito bem uma dessas festarolas malucas nos Irmãos Karamázov. Tchékhov dá-nos um esboço dessas festas fundido numa situação amarga, triste, melancólica, terrível em O Ginjal, quando a perda da herdade já está anunciada. Gógol achava essas orgias ridículas, em primeiro lugar, e talvez ímpias, em segundo. Não consta que o conde Tolstói, o anarquista cristão, as fustigasse às caralhadas, mas desprezava-as.
Quanto a Mikhail Mikhalkov, o cineasta, que romance cruel: enquanto se manteve fiel ao espírito de Tchékhov e não cultivava com perfumes caros o bigode e o buraco do umbigo, fazia uma arte credível. Depois, igual: é como quem chama os cães.
1 comentário:
O que recomenda do Mikhalkov a um pobre tipo que apenas viu (e amou) o Neokonchennaya pyesa dlya mekhanicheskogo pianino (1977), caríssimo?
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